Lançado originalmente em janeiro de 2012, Gritos Noturnos é um quadrinho finlandês de autoria de Hannu Kesola com desenhos de Jussi Piironen e teve sua primeira publicação no Brasil pela editora Red Dragon em março de 2020. Embora os autores não sejam muito conhecidos em terras tupiniquins, Kesola começou na cena independente no final da década de 1980 e já trabalhou para a estadunidense Heavy Metal; Piironen, por sua vez, trabalha também com design e possui uma importante presença como roteirista e desenhista da série alemã Jerry Cotton.
Nunca conhecemos exatamente as pessoas que convivemos, quais são suas manias ou costumes, podemos no máximo identificar alguns detalhes, mas muitas vezes o que ocorre é que não conhecemos nem mesmo os nossos impulsos mais primitivos. Quem somos realmente? O que se esconde dentro de nossas mentes?
Gritos Noturnos convida o leitor a acompanhar a investigação sobre um assassino em série que assola uma cidade italiana na década de 1970. A revista começa com um violento feminicídio, no qual a vítima foi crucificada em um local público, a repetição dessa temática religiosa nos assassinatos choca e preocupa cada vez mais a população que exige da força policial uma investigação rápida para a captura do homicida.
Kessola apresenta um roteiro impactante que faz homenagem ao clássico giallo, gênero cinematográfico italiano que teve seu auge nas décadas de 1960 e 1970 e se caracteriza por histórias de investigação com assassinatos gráficos e com mulheres como vítimas principais. Assim como, observamos em sua trama o uso de uma estrutura que se aproxima do gênero policial procedural que atualmente encontramos aos montes nos seriados televisivos.
Outro elemento importante e que podemos identificar em Gritos Noturnos, é que o roteiro nos leva pouco a pouco a um afastamento do realismo, pois a intensão que se pretende é mostrar narrativas bizarras que, muitas vezes, rompe com o desenvolvimento lógico da trama ou mesmo das motivações dos personagens.
É interessante ressaltar que o giallo é uma derivação do encontro dos gêneros de suspense policial com horror e se diferencia destes pela maior violência apresentada nos crimes, sempre com bastante sensacionalismo. Ele não surge no cinema, mas na própria literatura inspirado em romances investigativos como Crime e Castigo de Dostoievski ou Assassinato na Rua Morgue de Edgar Allan Poe, o estilo foi se desenvolvendo, ganhando cada vez mais violência, e ganha o nome a partir de 1929 com o lançamento da revista l Giallo Mondadori, idealizada por Lorenzo Montano e publicada na Itália por Arnoldo Mondadori na qual a cor da capa, amarelo (giallo) se transformou num importante elemento de design.