A frase atribuída a Friedrich Nietzsche “Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”, permite inúmeras interpretações, mas em geral ela discute sobre o vazio dentro de cada um de nós e o que pode aflorar dele. Quando levamos essa frase para a sociedade, descobrimos os monstros que se escondem nas sombras e que eles podem ser mais atuantes no nosso cotidiano do que podemos imaginar.
 

Essa sociedade marginal e sobrenatural é apresentada em Lukas, série Bonelliana de Michele Medda, um dos criadores de Nathan Never. O título foi publicado entre os anos de 2014 e 2016 em 24 volumes que foram divididos em duas fases (ou temporadas na linguagem mais multimídia) com 12 números cada. Aqui no Brasil, essa revista está sendo lançada pela Red Dragon Publishing em volumes que reúnem 4 edições originais cada e tem como planos finalizar o título em apenas em seis edições.

Nessa história acompanhamos Lukas, um personagem sem passado, que acorda dentro de um túmulo e começa a vagar por uma cidade sem nome. A primeira edição nos joga num cenário de horror urbano com atmosfera bastante claustrofóbica com tons narrativos que misturam elementos do Noir com o Gótico, e essa angústia do aprisionamento que o texto nos passa não ocorre por nos colocar em ambientes fechados, mas em decorrência da densidade do desconhecido. O pensamento fora de rumo de alguém que acabou de sair de uma gaveta no necrotério que encontra paralelos no cotidiano de uma família de classe média presa na eterna rotina.

 

Aos poucos descobrimos um pouco sobre algumas das habilidades de nosso protagonista que não pode morrer tão facilmente, assim como a existência de um submundo povoado por vários tipos de criaturas, inclusive uma espécie de vampiro que se organizou numa sociedade paralela. Lukas (que nem é o nome real dele) surge como uma resistência que passa a interferir nos negócios e fazer frente a esses outros imortais que tem como cardápio peculiar a alimentação de carne humana.

Nessa história acompanhamos Lukas, um personagem sem passado, que acorda dentro de um túmulo e começa a vagar por uma cidade sem nome. A primeira edição nos joga num cenário de horror urbano com atmosfera bastante claustrofóbica com tons narrativos que misturam elementos do Noir com o Gótico, e essa angústia do aprisionamento que o texto nos passa não ocorre por nos colocar em ambientes fechados, mas em decorrência da densidade do desconhecido. O pensamento fora de rumo de alguém que acabou de sair de uma gaveta no necrotério que encontra paralelos no cotidiano de uma família de classe média presa na eterna rotina.
 
Aos poucos descobrimos um pouco sobre algumas das habilidades de nosso protagonista que não pode morrer tão facilmente, assim como a existência de um submundo povoado por vários tipos de criaturas, inclusive uma espécie de vampiro que se organizou numa sociedade paralela. Lukas (que nem é o nome real dele) surge como uma resistência que passa a interferir nos negócios e fazer frente a esses outros imortais que tem como cardápio peculiar a alimentação de carne humana.
Mas não são apenas essa sociedade carniçal que povoa as ruas daquela que podemos chamar carinhosamente de Deathtropolis, pois o horror que encontramos nas nossas cidades também existe por lá. E nessas primeiras edições nos encontramos com tráfico de órgãos de imigrantes, empreiteiros que escondem acidentes de trabalhadores não registrados, a indiferença da dona de um imóvel que só quer se ver livre da polícia para colocar seu apartamento de volta para alugar.
 

Para os leitores da Bonelli temos algumas diferenças estruturais na narrativa que se apresenta no formato de temporadas (são duas contendo 12 capítulos cada). É uma divisão bastante evidente, pois as edições funcionam como capítulos de uma única história, mesclando o “monstro da semana” no qual cada episódio existe um mistério a ser resolvido, com uma trama que se desenvolve ao logo dos 12 primeiros números. É um formato interessante do qual podemos perceber como Medda se inspirou fortemente nos programas televisivos, inclusive não é exagero lembrar de Arquivo X ou Fringe ao ler a revista.

E aos poucos o leitor vai reunindo pistas sobre o cenário e as criaturas, nos inserindo numa cidade ainda sem nome, mas com elementos suficientes para afirmarmos que se passa em algum lugar da Europa. O tom soturno me lembrou do universo encontrado no cenário de RPG do Storyteller encontrados em Vampiro a Máscara ou Lobisomem o Apocalipse. Em ambos percebemos que a humanidade existe, mas é refém de criaturas fantásticas muito mais fortes que elas.
 
E nessa linha de realismo sombrio retomo a ideia que mencionei no início do texto, a ambientação claustrofóbica é construída pelo desespero de ser refém da escuridão, algo bem pautado não apenas pelo roteiro, mas por toda a equipe de desenhistas que se alterna a cada edição. Outra curiosidade é que a concepção gráfica de Lukas foi criada por seu primeiro desenhista Michele Benevento que é considerado o co-criador o personagem, segue a tradição dos quadrinhos da Bonelli, que sempre faz referência à Hollywood, de forma que em Lukas quem serviu como inspiração para as feições de foi o ator Erick Bana.
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